Graal

Nossa História

O MOVIMENTO DO GRAAL (1980-2013)

Pois aqui está a minha vida
Pronta para ser usada
Vida que não se guarda e nem se esquiva assustada
Vida sempre a serviço da vida…

Thiago de Mello

Os anos de 1980 anunciaram um novo porvir para o povo brasileiro. Após dezesseis anos de ditadura militar a redemocratização tem início com a aprovação da Lei da Anistia que garante o retorno para o país dos exilados políticos. Esse é apenas o início de um processo que desaguará na abertura política em 1985.

O Movimento do Graal, após dez anos de paralização de suas atividades, reinicia as suas ações pelas mãos de quatro mulheres muito especiais: Maria Elizabeth Huskeins (Betinha), Elizabeth Caminada (a Bep), Geralda Magela Diniz (a Lalá) e a Mary Alice Duddy (a Alice). Cada uma delas colocou-se a serviço do Graal motivadas por um desejo comum; ou seja, fazer com que muitas mulheres no Brasil conhecessem a novidade do Graal. Porém, como na parábola dos talentos, cada uma delas assumiu essa tarefa de um jeito bem particular.

Betinha, durante longos anos se dedicou ao trabalho com empregadas domésticas do Bairro Aparecida em Pirapora-MG, ensinando-as o corte e costura além do artesanato. Falou também sobre a importância da organização.

Elizabeth Caminada promoveu a criação do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Buritizeiro, além disso, incentivou para que mulheres jovens e iniciantes no Graal compreendessem o sentido  da participação popular e comunitária.

Lalá, com seu jeito calmo e modo pausado de falar deixava transparecer uma fé inabalável na pessoa de Jesus Cristo. Como professora e catequista se fez caminho para que adolescentes e jovens se interessassem pelas coisas de Deus. Inspirada pelo Concílio Vaticano II, Lalá trouxe novas metodologias para as reuniões do Graal.

Mary Alice Duddy representava a coragem dos profetas de anunciar e denunciar. Alice uma mulher de aparência frágil mas forte na certeza de que as injustiças não devem ter a última palavra. Alice lutou com a palavra e viveu coerentemente tudo o que pregava: vida de simplicidade e paixão pelo mistério do Graal.

Essas quatro mulheres foram a fortaleza do Graal no Brasil e serviram de inspiração para que outras mulheres se lançassem à procura do cálice do Graal e da vida verdadeira.

Ainda nos anos de 1980, experiências de vida em comunidade têm início em Belo Horizonte, 1983 e Buritizeiro, em 1987. A vida em comunidade possibilitou a realização de estudos, trabalhos de base na área da educação popular em periferias de Belo Horizonte, Pirapora e Buritizeiro- norte de Minas Gerais, trabalhos comunitários com metodologias participativas e o desenvolvimento da espiritualidade que foi alimentado pelo conhecimento da história do povo de Deus e da realidade social, política e econômica do país. Isto contribuiu para que o grupo se envolvesse em passeatas, movimentos reivindicatórios e lutas políticas. O retorno à democracia após 21 anos de ditadura militar demonstrava a fragilidade da democracia brasileira e a necessidade da participação popular para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Definitivamente, essa experiência marcou profundamente a vida daquelas mulheres iniciantes no Graal que experimentaram viver em comunidade.

ANOS 90

“Quantas somos? Não sei…
Somos Uma, talvez duas, talvez três,
Talvez quatro, talvez cinco, talvez nada!
Talvez a multiplicação de cinco em cinco mil
E cujos restos encheriam doze terras.”

Vinicius de Moraes

Os anos de 1990 são marcados pela consolidação do Graal enquanto um movimento social e da sua atuação por meio dos projetos com mulheres que deu os seus primeiros passos no final dos anos 80 com assessorias a mulheres trabalhadoras rurais no sul e noroeste de Minas Gerais.

Essa experiência impulsionou, anos mais tarde, o surgimento de um Centro da Mulher na própria sede nacional do Movimento do Graal.

O conhecimento da condição social das mulheres marcada pela violência de gênero, saúde e sexualidade, situação sócio-econômica sempre em desvantagem quando confrontada ao dos homens, bem como a situação das mulheres negras, definiu os eixos de atuação desse projeto que hoje, com 25 anos de prestação de serviço, orientou  seu campo de atuação com enfoque no gênero, saúde, sexualidade e direitos reprodutivos.

Com metodologias inovadoras utilizadas como estratégias para fortalecer a visibilidade do Graal, o Centro da Mulher foi ainda espaço de lançamento de livros, de realização de noites culturais e shows musicais.

Em Buritizeiro o projeto de educação popular desenvolvido na Vila Maria, fortaleceu a visibilidade do Graal em Buritizeiro, na vizinha cidade de Pirapora, por meio do trabalho de organização das mulheres, adolescentes e trabalhadores rurais. A sede do Graal onde se desenvolve o projeto tornou-se referência para a comunidade em suas necessidades; de organização comunitária, lazer, empreendimentos sócio-econômico e educacional.

O final dos anos noventa também nos marcou profundamente pela perda repentina de Lalá; grande referência do Graal do Brasil. Como prosseguir ? Era preciso redefinir o caminho !

ANOS 2000

“Não, não tenho um caminho novo
O que tenho de novo é o jeito de caminhar.
Aprendi (a vida me ensinou) a caminhar com aqueles que vão comigo”

(Thiago de Mello)

Os anos de 2002 são marcados pela euforia da eleição do primeiro trabalhador à presidência do Brasil. O Movimento do Graal como os demais movimentos sociais no Brasil, experimentou pela primeira vez a parceria na construção de políticas públicas voltadas para os interesses da grande maioria da população.

Internamente, a grande maioria das mulheres do Graal bastante envolvidas seja com o trabalho profissional seja com experiências recentes de constituição de família, provocaram mudanças na dinâmica do Graal. Nesse sentido já não é mais possível uma dedicação exclusiva ao Movimento. Porém, os grupos locais, buscam formas de realizar encontros mensais, formação de novas associadas construindo novas estratégias para a continuidade do Movimento.

A atuação com os projetos sociais, tanto em Belo Horizonte quanto em Buritizeiro, dão continuidade e o Graal cada vez mais vem se inserindo em espaços de elaboração e controle de políticas públicas voltadas para as mulheres. Essa participação é resultado do reconhecimento das ações do Graal em favor das mulheres.

O Graal continua sendo um espaço importante para a vida das associadas e para a sociedade como um todo. É um lugar dinâmico, aberto a inovações e acolhimento.

Como as quatro mulheres que nos inspiraram no inicio de nossa caminhada como mulheres do Graal no Brasil, também nos sentimos co-responsáveis por manter acesa a chama do Graal nas nossas vidas e na vida de outras mulheres. Por vezes não é uma tarefa simples e fácil. Mas acreditamos, como dizia o Pe. Van Ginneken, no potencial transformador das mulheres.

Que sejamos capazes de transformar !!!